por Thiago Gomes

Todo médico atento saberia diagnóstico diferencial de tosse crônica em adultos. Uma questão de script. Asma, sinusite e refluxo. São entidades separadas, cada uma de uma especialidade diferente: pneumo, otorrino e gastro.
Como cuidar delas separadamente? Como coordenar cuidados nesse contexto?
Bem, no aniversário de 50 anos, ela queria comemorar de um jeito diferente.
Após a separação que ocorrera há 6 meses, andava mais cabisbaixa, nada que um inverno nada rigoroso não submetesse. Ela sucumbiu finalmente, veio a crise que forçou o encontro.
Por que não o pronto socorro? Por que não o especialista em tosse?
Dessa vez não era a tosse o problema, era dispneia – a falta de ar.
Sim, ela tinha fome de ar. Estava acima do peso que dessa vez o vazio necessitava de uma compreensão maior. Entre fôlegos, suspiros, sonhos, choros, saturações, inalações e puffs de aerossóis, o sol renasceu, a vida voltou a ter….
A fazer sentido
A terapia imposta é certeira – primeiro descanse, segundo cheire, terceiro come e sem regurgitação. Na verdade, mais que comer, engolir tantos problemas, tantas pressões, tantas gerações…e num simples genograma a visualização de tanto sofrimento, tanta carga, tanto peso…
Não era uma simples tosse, nunca foi a tosse o problema, ela – a tosse e todos os diagnósticos colocados em hipótese, confirmados ou não por meio de testes complementares – eram a resposta que aquele ser humano encontrou para dar sentido à vida, uma pesada vida.
E meio século foi necessário para ela voltar a viver com mais leveza, sentindo um fluxo, uma fluidez no viver. Foram necessárias duas semanas na APS.
Sim, ela passou em apenas em médico e em três encontros – um para asma, outro para o refluxo e o último para a sinusite – foram as mazelas cuidadas, olhadas, exploradas, extirpadas, eliminadas.
E a tosse?
Diga 33…